quarta-feira, 23 de maio de 2012

1,99

- não sei porquê você fez isso, mas você me fez querer desistir de você.
- você me faz querer desistir de você a todo instante, mas eu luto contra isso.
- você não valoriza o que eu sinto por você, só sabe me esculachar.
- olha, até tento valorizar. mas não dá mais. não consigo mais ver você saindo por aquela porta, prometendo mais uma vez que tudo será diferente e eu ver só seu perfume diminuindo dentro do armário.
- eu fiz de tudo por você.
- fez. para me perder.
- não, me escuta, eu te amo. fica comigo mais um pouco.
- você nem pergunta mais, você afirma. cansei de ficar mais um pouco. de pouco em pouco foram-se anos.
- eu sei que eu virei as costas quando você mais precisou, mas sei o quanto você cresceu nesse tempo longe, algumas vezes até duvidei que era você mesma. jurei que quando eu te largasse você se jogaria da primeira ponte que aparecesse, e você foi mais forte. naquela tarde em que você me ligou e apareceu na porta da minha casa aos prantos, eu me balancei. eu afirmei o quanto te amava, mesmo sabendo que não podia mais, que você não me pertencia mais. eu tive que ser forte, tive que ter pulso firme e não pedir pra voltar contigo. sei que arrumei outra pessoa pra minha vida, achei que conseguiria seguir esse caminho sozinho, depois de tantos anos preso em você, mas notei que preciso de alguém pra sobreviver. e percebi também que você não precisa, você precisa somente de você. você é meio egoísta mesmo.
- ah legal, quando você começa a falar as verdades, você vem e começa a me acusar novamente.
- desculpa, amor.
- amor não.
- força do hábito nunca se perde, mesmo que quase dois anos depois.
- você sabe que essa conversa não poderia existir.
- sei, por isso tô aqui. durante todas nossas brigas eu afirmei que você arrumaria outra pessoa logo que acabasse, foi diferente. você, que se mostrava tão dependente de mim, se mostrou tão independente, parece que aprendeu a gostar da sua própria companhia. eu, que me mostrava tão independente, me mostrei bastante dependente, tive que arranjar alguém para ocupar seu lugar e cuidar de mim. me senti meio perdido. às vezes ainda me sinto.
- é, também. mas só às vezes.
- às vezes sinto sua falta, seja como amiga ou sei lá o quê.
- sei lá o quê?
- é.
- bem que eu sempre disse, eu te considerava namorado. agora você, me considerava sei lá o quê.
- tá vendo porquê terminamos? você e suas crises filosóficas de sempre.
- desculpa desvirtuar o assunto. continue, afinal é você que quis começar essa conversa.
- olha, queria te falar que é muito bom te ver com esse sorriso contagiante no rosto, parece que aquela nuvem negra que você carregava sobre sua cabeça sumiu, espero que ela não tenha sido por minha causa, você se mostrou alguém tão feliz, tão boa, tão crescida, tão madura. e às vezes imatura.
- tá. eu sei que ando imatura.
- mas o que mais me parece é que finalmente você se achou, e eu tenho medo de ter perdido você pra sempre.
- você sabe a verdade.
- sei, eu nunca te tive. você sempre foi dele.
- dele quem?
- não se faça de boba. ele. aquele que eu disse que era o cara que você mais gostou na vida, aquele mesmo que eu disse que em lista de preferência ele vinha em primeiro lugar. aquele que prefiro não citar o nome, porque dói.
- isso é constrangedor.
- muito. eu soube de vocês de mãos dadas no nosso restaurante preferido, e soube de vocês trocando beijos no meio dos meus amigos, e soube também de vocês dando as mãos por baixo da mesa.
- peraí. você soube do dia das mãos por baixo da mesa? como?
- quando você chegou em casa, disse o nome de todas as pessoas que estavam, eu sabia que estavam só vocês dois, e principalmente que aquela noite teve sorrisos, mãos dadas por baixo da mesa, vinho e alguns beijos. eu só relevei. eu sofri cada instante, eu sabia que você gostava mais dele do que de mim.
- não é isso. era um amor diferente.
- sim. era diferente, o dele era verdadeiro, o meu não existiu.
- existiu sim.
- não, você tentou compensar, mas... vamos deixar esse papo de lado. só queria dizer que às vezes sinto sua falta.
- eu também.

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