quarta-feira, 15 de agosto de 2012

sem lenço e nem documento - capítulo I

- Então saia logo dessa casa! - Ordenou sua mãe.
- Vou-me embora, não importa como.
E assim Cecília bateu a porta, colocou sua pequena mochila nas costas e lamentou o fato de deixar as coisas que gostava para trás. Ela sabia que eram poucas coisas e que ela podia voltar a qualquer hora, mas ela sempre dava muito valor nas pequenas coisas. Até nas coisas que não poderia e não deveria.

Cecília estava no auge de seus vinte e poucos anos, tinha um cabelo que passava da cintura e um corpo espetacular na visão de alguns, e às vezes considerada gordinha na visão de outros. Desde criança nunca teve o sonho de casar virgem e nunca teve certeza sobre os príncipes encantados, a única coisa que sabia era que conheceria o mundo.

Assim que virou a esquina da Avenida Manoel Felício com a rua de sua casa, Cecília avistou a praça que costumava brincar quando criança, ponderou ficar, mas lembrou-se de um conselho muito antigo que sempre lhe deram sobre não se apegar ao passado e sempre seguir em frente. Foi o que fez, andou cerca de uns quinhentos metros e chegou a um guichê.

- Com cento e vinte mangos eu chego até onde?
- Depende para qual região a senhora deseja ir.
- Por enquanto quero ir pro Sul.
- A senhora chega até o litoral do Rio Grande do Sul.
- Me vê uma passagem.
- Ida e volta?
- Não, só ida.

A viagem durou cerca de quinze horas, e dentre essas quinze horas de muitos pampas à vista, Cecília utilizou dez horas para pensar em cada detalhe de sua viagem e perceber uma coisa; estava sem rumo. Mas no fim ela gostava de estar sem rumo. Aquilo nunca havia lhe acontecido antes. Ela deu um sorriso e prometeu a si mesma que voltaria para casa, mas só depois de viver todas as histórias loucas que existiam somente em seu pensamento. Era hora de ser Cecília.

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